As proteínas são um entre os 3 tipos de macronutrientes que estão presentes nos alimentos que ingerimos diariamente. Além de fornecer calorias para o organismo, as proteínas dietéticas possuem uma importante função estrutural, que vai além da construção de músculos: esse nutriente fornece a matéria prima para muitas das estruturas das nossas células, para a síntese de hormônios, enzimas, componentes do sistema imune e dos órgãos e tecidos de uma forma geral.
Quando ingerimos alimentos fonte de proteína (como as carnes, ovos, queijos, leite, leguminosas ou suplementos proteicos), esse nutriente está presente na forma de uma estrutura muito grande, que não consegue ser diretamente absorvida pelos enterócitos, as células absortivas do intestino. Para que essa absorção aconteça, é necessário que as grandes moléculas de proteína sejam hidrolisadas pela ação de proteases e peptidases, até que cheguem em estruturas menores, como os di/tripeptídeos e os aminoácidos, a menor unidade formadora das proteínas. Esse processo acontece principalmente no estômago, que possui um pH mais ácido, necessário para ativar as enzimas degradadoras de proteínas. Mas logo depois da hidrólise, essas estruturas menores que foram geradas vão em direção ao intestino.
Além de serem absorvidos para utilização pelo metabolismo, os produtos digestivos das proteínas também podem ser metabolizados por alguns tipos de bactérias intestinais. Alguns dos metabólitos gerados nesses processo são moléculas bioativas, envolvidas em processos fisiológicos do hospedeiros, como os ácidos graxos de cadeia curta. Porém, também podem ser formados metabólitos tóxicos, como o sulfito de hidrogênio, a amônia e compostos indólicos, o que acontece principalmente quando a quebra de proteínas não acontece de forma adequada. Pontos importantes que determinam qual tipo de metabólito será predominante formado é o tipo e quantidade de proteína ingerida, como está a capacidade digestiva, assim como a composição da microbiota individual.
Quando um excesso de proteína é ingerido, além das necessidades individuais, o residual proteico que fica no intestino favorece o crescimento de bactérias que fermentam as proteínas, produzindo excesso de metabólitos potencialmente tóxicos, como Klebsitella spp., Escherichia coli, Streptococcus spp, Succinivibrio dextrinosolvens, Mitsuokella spp. e Anaerovibrio lipolytica. O aumento do nível dessas bactérias pode predispor o desenvolvimento de uma disbiose, reduzindo o número de espécies benéficas.
Mas além da atenção quanto ao nível de proteína ingerido para evitar o supercrescimento de bactérias não favoráveis, também é possível utilizar estratégias que pode que podem melhorar a digestão, absorção e disponibilidade dos aminoácidos para o hospedeiro: a suplementação de probióticos é uma delas. Algumas cepas específicas como a B. coagulans e a L. johnsonii, por exemplo, são capazes de produzir enzimas que hidrolisam as proteínas no ambiente intestinal, que tem um pH bem diferente do estômago, onde essa degradação geralmente acontece. Esse tipo de ação aumenta a disponibilidade de aminoácidos para o hospedeiro e, caso não haja um excesso protéico na alimentação, o risco de um elevado residual disponível para as bactérias patogênicas é improvável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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