O uso terapêutico da N-acetilcisteína, derivada do aminoácido cisteína e também conhecida como NAC, é bastante antigo e baseia-se, principalmente, na sua natureza antioxidante. Essa substância é precursora da glutationa, importante molécula do sistema antioxidante endógeno, e a suplementação de NAC é capaz de aumentar seus níveis, dando um suporte importante para o controle do estresse oxidativo.
Além disso, possui atividade anti inflamatória, reduzindo a secreção de citocinas e, assim, limitando a resposta imune e inflamação descontrolada. Outra funcionalidade da NAC é ser um agente mucolítico, inibindo a formação de biofilmes de bactérias que estão relacionadas à condições patológicas, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenza, além de ser uma estrutura que causa resistência bacteriana aos antibióticos.
As funções antioxidante e anti inflamatória da NAC já são bastante promissoras quando o assunto é saúde intestinal. Quadros de inflamação crônica de baixo grau, que usualmente são acompanhados por altos níveis de estresse oxidativo, estão associados à disbiose e diminuição da diversidade bacteriana. Uma das estratégias primeiras e principais para lidar com esse tipo de desequilíbrio é, justamente, o aumento do aporte de antioxidantes e substâncias anti inflamatórias, como uma maneira de promover um ambiente adequado para restauração das bactérias consideradas benéficas.
Mas esse tipo de raciocínio, apesar de lógico, não é tão preto no branco quando tratamos do corpo humano. É preciso investigar e observar se esses benefícios realmente são observados. Estudos pré-clínicos visando observar os efeitos da suplementação de NAC em parâmetros intestinais e da microbiota residente, alguns achados são animadores:
O uso dessa substância reduziu os danos à integridade da barreira intestinal, especialmente devido ao seu potencial de controlar respostas inflamatórias associadas à essa estrutura;
Houve o aumento da diversidade e riqueza de bactérias intestinais;
Akkermansia, Bifidobacterium e Lactobacillus apresentaram aumento de níveis nos animais tratados com NAC, e todas estas são bactérias consideradas benéficas para a saúde do hospedeiro. Outro achado foi a maior presença de Allobaculum após a suplementação de NAC, bactérias associadas com melhor controle glicêmico;
Redução de bactérias consideradas patogênicas (Desulfovibrio and Blautia);
E o mais interessante é que toda essa remodelação da microbiota resultou em melhora de parâmetros metabólicos, ou seja, o efeito sistêmico de um microbioma mais saudável.
Toda e qualquer suplementação, com o propósito que seja, deve sempre ser acompanhada de ajustes na alimentação, que deve ser sempre a principal fonte de nutrientes e energia. No caso da saúde intestinal, a ingestão hídrica e o consumo de fibras e compostos bioativos, que tem as frutas e vegetais como principais fontes, é primordial. O uso de NAC entra nessa equação como um complemento, uma maneira de aumentar o potencial antioxidante e anti inflamatório do corpo, dando um suporte para que as nossas células e de nossas bactérias possam funcionar da melhor maneira.
Essa suplementação já se mostrou segura e efetiva, e o ajuste de dose é bastante individual, tendo em vista que em algumas pessoas pode causar desconfortos abdominais e náuseas, principalmente no uso das quantidades mais elevadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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