Muitas intervenções clínicas e suplementações utilizadas atualmente para as mais diversas condições só funcionam graças aos microrganismos que habitam o trato gastrointestinal e que, em conjunto, são denominados “microbiota intestinal”, incluindo bactérias, fungos e alguns outros tipos de microestruturas. Tal descoberta nos mostra que, além de promover saúde quando está em equilíbrio, a microbiota também é extremamente fundamental no combate de patologias que podem acometer o organismo.
Porém, existe um paradoxo importante nessa questão de combate de doenças e microbiota, e o ponto central são os antibióticos. Esse tipo de medicação é indispensável na remissão de condições infecciosas, mas ao mesmo tempo também afeta negativamente a composição e função da microbiota, causando consequências de longo prazo que podem aumentar a suscetibilidade à outras doenças.
O que vemos em estudos e na prática clínica é que os efeitos deletérios dos antibióticos sobre os microrganismos intestinais podem durar de meses até anos. A perda de diversidade microbiana, a redução da resistência de colonização (um fenômeno pelo qual a microbiota protege o intestino da colonização de patógenos), o surgimento de cepas de bactérias resistentes são exemplos de formas pelas quais a microbiota é afetada. O cerne da questão é que, desequilibrada, a microbiota predispõe um estado de elevada inflamação e exacerbação imune que diminui a proteção do organismo. Um ciclo vicioso, né?
Esse tipo de observação justifica dois pontos importantes:
O primeiro diz respeito ao fato de que os antibióticos são coisa séria! Muitas vezes o uso é feito de maneira irresponsável e desnecessária. É claro que, como dito, para determinados tratamentos, esse tipo de medicamento é a melhor - e por vezes a única - ferramenta para resolver a situação, e o seu uso deve ser reservado a esses casos.
Justamente quando for necessário o uso, é importante que, na finalização do tratamento, sejam adotadas estratégias para recompor e fortalecer a microbiota intestinal, visando quebrar o ciclo vicioso e evitar as consequências de longo prazo sobre os microrganismos que habitam o intestino.
E quais seriam essas estratégias? Não tem muito segredo:
Primeiramente, é importante caprichar no consumo de fibras e alimentos in natura de forma geral para evitar a sobrecarga de aditivos e oferecer fibras e compostos bioativos que servem de combustível para o crescimento de bactérias benéficas.
Hidrate-se muito bem para facilitar a digestão e evitar que o maior consumo de fibras cause constipação.
Exercite-se de maneira moderada e regular pois a prática física tem um importante papel modulador da inflamação que beneficia a composição da microbiota.
Converse com o profissional que cuida da sua alimentação a respeito da possível suplementação com probióticos para favorecer a recolonização de espécies benéficas. Lactobacillus acidophilus e bifidobacterium longum são exemplos de espécies a serem consideradas nesse momento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Becattini, S., Taur, Y., & Pamer, E. G. (2016). Antibiotic-Induced Changes in the Intestinal Microbiota and Disease. Trends in molecular medicine, 22(6), 458–478. doi: 10.1016/j.molmed.2016.04.003
Blaser M. J. (2016). Antibiotic use and its consequences for the normal microbiome. Science (New York, N.Y.), 352(6285), 544–545. doi: 10.1126/science.aad9358
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