A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal com causa multifatorial, caracterizado por dor e distensão abdominal e hábito intestinal desregulado. Essa condição clínica pode afetar a qualidade de vida do indivíduo, devido aos sintomas associados e as alterações que o mesmo precisa fazer nos seus hábitos de vida para controlar a doença.
A literatura mostra algumas causas associadas a SII, como alteração na composição da microbiota intestinal, propensão genética e hipersensibilidade visceral. Nessa mesma linha, alguns pacientes relatam determinados gatilhos associados ao desencadeamento dos sintomas, como a ingestão de leite e derivados, trigo, cafeína, repolho, feijão, temperos picantes e alimentos fritos, mostrando o impacto da alimentação no controle desse distúrbio.
Dieta e síndrome do intestino irritável
A dieta desempenha um papel importante na fisiopatologia da SII. Existem 4 mecanismos que são possíveis explicações associados ao sintomas da síndrome do intestino irritável:
Resposta gastrocólica, ou seja, respostas contráteis e sensoriais frente à ingestão de alimentos.
Alterações na composição da microbiota intestinal.
Alterações na barreira epitelial intestinal devido a antígenos dietéticos.
Exacerbação dos sintomas decorrente da ingestão de fibras insolúveis.
Devido aos sintomas estarem relacionados com determinados alimentos, é importante que escolhas conscientes sejam feitas e para isso, uma orientação dietética individual é crucial, principalmente pelos sintomas serem individuais.
Ingestão de fibras e carboidratos
Alguns sintomas de pacientes com SII estão atribuídos ao consumo de alimentos ricos em carboidratos simples e mal absorvidos. Os açúcares de cadeia curta, incluindo frutose, lactose, sorbitol, manitol e xilitol, exercem efeito osmótico no lúmen do intestino grosso, aumentando o teor de água e fornecendo substrato para a fermentação bacteriana, produzindo assim uma grande quantidade de gás. Esse gás produzido causa distensão abdominal e desconforto.
Quando falamos em ingestão de fibras, inicialmente alguns estudos afirmaram que a baixa ingestão de fibras estava associada com o desenvolvimento de SII. Contudo, outros estudos mostraram que o aumento da ingestão de fibras pode causar dor e inchaço abdominal, o que pode levar você a se perguntar, as fibras devem ser consumidas ou evitadas? A resposta é simples, as fibras solúveis em água aparentemente apresentam melhoras nos sintomas de SII, sendo que as fibras insolúveis devem ser evitadas.
Dieta low FODMAPs
Os FODMAPs estão presentes em muitos alimentos, com substâncias que são pouco absorvidas e que podem induzir efeito osmótico e fermentação, levando ao aumento dos sintomas. Uma dieta low FODMAPs pode ser capaz de reduzir os sintomas de SII e induzir mudanças favoráveis na microbiota intestinal, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Portanto, quais alimentos podem ser consumidos?
Como falamos acima, alimentos ricos em carboidratos simples ao serem evitados reduzem os sintomas de SII. Dentre eles temos: leite e produtos lácteos, trigo, centeio, algumas frutas, verduras e legumes e mel. Para facilitar, vamos dividir em alimentos com alto teor FODMAPs que devem ser evitados e alimentos com baixo teor de FODMAPs que podem ser consumidos:
Alto teor FODMAPs: cebola, alho, couve, milho, couve-flor, brócolis, maçã, pera, manga, abacate, leite, iogurte, queijo, creme de leite, sorvete, feijão, grão de bico, soja, pães e cereais, massas, castanha de caju, produtos industrializados e adoçantes como xilitol, manitol e sorbitol.
Baixo teor FODMAPS: alface, espinafre, abobrinha, cenoura, tomate, banana, uva, kiwi, maracujá, itens sem lactose, carne, peixe, frango, tofu, itens sem glúten e amêndoas.
É importante ressaltar que os sintomas e gatilhos devem ser analisados de maneira individual para que a conduta nutricional seja assertiva. Mesmo diante das evidências citadas alguns indivíduos podem não se beneficiar de determinada conduta, sendo necessário outras alternativas.
Referências
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Camilleri, Michael. “Management Options for Irritable Bowel Syndrome”. Mayo Clinic proceedings, vol. 93, no 12, dezembro de 2018, p. 1858–72. PubMed Central, https://doi.org/10.1016/j.mayocp.2018.04.032.
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